sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A raça humana



O recanto remoto no Quênia que conta a história da raça humana
Melissa Hogenboom BBC Earth 


O "Menino de Turkana" tinha cérebro maior que seus ancestrais

Nossos ancestrais humanos eram de certa forma uma turma esquiva, não deixaram muitas pistas a serem seguidas. Seus vestígios são raros, e os poucos fósseis encontrados costumam estar incompletos. Muitas vezes precisam ser reconstituídos a partir de dezenas de fragmentos, como um quebra-cabeças. Por isso é que uma descoberta feita em 1984 levou paleontólogos à loucura. E segue fascinando.

Era o esqueleto de um menino, descoberto no lago Turkana, nos desertos do norte do Quênia. Ele morreu quando tinha cerca de oito anos de idade e seus ossos afundaram no leito do lago, onde permaneceram preservados por mais de 1,5 milhão de anos. O esqueleto do menino ainda é o mais bem preservado fóssil de homem primitivo já encontrado.

No entanto, o "Menino de Turkana" é apenas um de muitos fósseis encontrados no lago. Juntos, eles somam 4 milhões de anos de evolução humana. Esse local nos contou muitas histórias sobre nossas origens e como viveram nossos ancestrais.

Linhagens
Hoje, o lago Turkana fica em um deserto hostil. Mas nem sempre foi assim. Há 2 milhões de anos, o lago era muito maior e a região em volta, bem mais verde. Desde então, mudanças rápidas no clima causaram o encolhimento de sua área. E, ocasionalmente, podem levar a seu desaparecimento.


 O Lago Turkana no passado abrigava uma área bem mais extensa

Em tempos mais úmidos, o lago era uma locação ideal para humanos. E fornecia condições perfeitas para a fossilização de seus restos mortais. Isso porque Turkana está em uma área vulcânica, em que movimentos de placas tectônicas podem mexer a crosta terrestre e criar novas camadas. E é nessas camadas que fósseis de diferentes períodos são encontrados.

"São condições em que os ossos ficam enterrados na areia de depois petrificados", explica o paleontólogo Fred Spoor, da Universidade College London.

Períodos de chuva intensa expuseram os fósseis. As escavações no local começaram em 1968. Era uma área enorme, mas fotos aéreas sugeriam que haveria um festival de fósseis para serem encontrados.

"A ideia era trabalhar de uma margem para a outra", conta o pesquisador Richard Leakey, que participou da expedição. Logo os fósseis simplesmente começaram a quase brotar.


Em 1972, a equipe de Leakey descobriu o crânio e alguns ossos de um Homo rudolfensis de 1,9 milhão de anos, que ficou conhecido como caveira 1470. A descoberta reforçou uma teoria nascente – a de que não havia apenas uma linha evolucionária da homens primitivos, mas várias linhagens. Já se sabia que três outras espécies viviam na África ao mesmo tempo que a caveira 1470: o Homo habilis, o Homo erectus e o Paranthropus boisei.

Isso significa dizer que os humanos eram um grupo diverso de espécies, e não apenas uma, como hoje. Descobertas posteriores na margem leste, mais particularmente na região conhecida como Kobbi Fora, sugerem que três espécies de Homo coexistiram entre 1,78 e 1,98 milhão de anos atrás.

Mas foi ao encontrar o Menino de Turkana que começamos a aprender mais sobre a mais importantes delas: o Homo erectus.

 O "Menino de Turkana" é o mais completo esqueleto de um antepassado humano já encontrado

"O ‘Menino de Turkana’ é um fóssil de importância monumental e que desperta novas questões sobre a evolução humana", afirma o paleontólogo John Shea, da Universidade Stone Brook, em Nova York.

Para começar, o Homo erectus é apontado por especialistas como nosso ancestral direto. Foi o primeiro hominídeo a deixar a África e chegar à Europa e a Ásia. Em alguns pontos tinham semelhanças surpreendentes conosco. Era mais alto que o "contemporâneo" Homo habilis e tinha cérebro maior.
continua...

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