O recanto
remoto no Quênia que conta a história da raça humana
Melissa
Hogenboom BBC Earth
O "Menino de Turkana" tinha cérebro
maior que seus ancestrais
Nossos ancestrais humanos eram de
certa forma uma turma esquiva, não deixaram muitas pistas a serem seguidas.
Seus vestígios são raros, e os poucos fósseis encontrados costumam estar
incompletos. Muitas vezes precisam ser reconstituídos a partir de dezenas de
fragmentos, como um quebra-cabeças. Por isso é que uma descoberta feita em 1984
levou paleontólogos à loucura. E segue fascinando.
Era o esqueleto de um menino,
descoberto no lago Turkana, nos desertos do norte do Quênia. Ele morreu quando
tinha cerca de oito anos de idade e seus ossos afundaram no leito do lago, onde
permaneceram preservados por mais de 1,5 milhão de anos. O esqueleto do menino
ainda é o mais bem preservado fóssil de homem primitivo já encontrado.
No entanto, o "Menino de
Turkana" é apenas um de muitos fósseis encontrados no lago. Juntos, eles
somam 4 milhões de anos de evolução humana. Esse local nos contou muitas
histórias sobre nossas origens e como viveram nossos ancestrais.
Linhagens
Hoje, o lago Turkana fica em um
deserto hostil. Mas nem sempre foi assim. Há 2 milhões de anos, o lago era
muito maior e a região em volta, bem mais verde. Desde então, mudanças rápidas
no clima causaram o encolhimento de sua área. E, ocasionalmente, podem levar a
seu desaparecimento.
O Lago Turkana no passado abrigava uma área bem
mais extensa
Em tempos mais úmidos, o lago era
uma locação ideal para humanos. E fornecia condições perfeitas para a
fossilização de seus restos mortais. Isso porque Turkana está em uma área
vulcânica, em que movimentos de placas tectônicas podem mexer a crosta
terrestre e criar novas camadas. E é nessas camadas que fósseis de diferentes
períodos são encontrados.
"São condições em que os
ossos ficam enterrados na areia de depois petrificados", explica o
paleontólogo Fred Spoor, da Universidade College London.
Períodos de chuva intensa
expuseram os fósseis. As escavações no local começaram em 1968. Era uma área
enorme, mas fotos aéreas sugeriam que haveria um festival de fósseis para serem
encontrados.
"A ideia era trabalhar de
uma margem para a outra", conta o pesquisador Richard Leakey, que
participou da expedição. Logo os fósseis simplesmente começaram a quase brotar.
Em 1972, a equipe de Leakey
descobriu o crânio e alguns ossos de um Homo rudolfensis de 1,9 milhão
de anos, que ficou conhecido como caveira 1470. A descoberta reforçou uma
teoria nascente – a de que não havia apenas uma linha evolucionária da homens
primitivos, mas várias linhagens. Já se sabia que três outras espécies viviam
na África ao mesmo tempo que a caveira 1470: o Homo habilis, o Homo
erectus e o Paranthropus boisei.
Isso significa dizer que os
humanos eram um grupo diverso de espécies, e não apenas uma, como hoje.
Descobertas posteriores na margem leste, mais particularmente na região
conhecida como Kobbi Fora, sugerem que três espécies de Homo coexistiram
entre 1,78 e 1,98 milhão de anos atrás.
Mas foi ao encontrar o Menino de
Turkana que começamos a aprender mais sobre a mais importantes delas: o Homo
erectus.
O "Menino de Turkana" é o
mais completo esqueleto de um antepassado humano já encontrado
"O ‘Menino de Turkana’ é um
fóssil de importância monumental e que desperta novas questões sobre a evolução
humana", afirma o paleontólogo John Shea, da Universidade Stone Brook, em
Nova York.
Para começar, o Homo erectus
é apontado por especialistas como nosso ancestral direto. Foi o primeiro
hominídeo a deixar a África e chegar à Europa e a Ásia. Em alguns pontos tinham
semelhanças surpreendentes conosco. Era mais alto que o "contemporâneo"
Homo habilis e tinha cérebro maior.
continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário