Coreia do
Sul se posiciona como um gigante cultural no mundo
Onda cultural coreana também chega ao Brasil
Publicado
em 06/11/2019 - 06:05
Por José
Romildo Brasília
O Brasil foi o primeiro país da
América Latina e o oitavo do mundo a estabelecer relações com a Coreia do Sul,
no momento em que o país asiático se encontrava em grande dificuldade
econômica. Os dois países estão celebrando 60 anos de relações
diplomáticas em um cenário bilateral de muitas oportunidades.
A Coreia é hoje uma das mais
prósperas nações do mundo em razão do desenvolvimento tecnológico e da presença
de suas empresas ao redor do mundo. O momento atual é ideal para que Brasil e
Coreia do Sul elevem o patamar de suas relações, tendo em vista a
complementariedade econômica e o dinamismo cultural das duas nações. Além
disso, existe a expectativa entre os governos dos dois países de que a Coreia
do Sul assine um acordo comercial com o Mercosul em meados de 2020, o que
favorece ainda mais a percepção de um fortalecimento das relações entre as duas
nações.
Pelo lado econômico, há décadas
as empresas coreanas avançam pelo mundo, o que ajuda a explicar o PIB (Produto
Interno Bruto) de US$ 1,72 bilhões do país, que ocupa a 12ª posição entre as
maiores economias do mundo. Com esse PIB, e com uma população de apenas 50
milhões de habitantes, é fácil entender a renda per capita do país, superior a
US$ 30 mil.
Cultura
O que é novidade para muitos é a
expansão cultural da Coreia do Sul. Hallyu é o nome da onda cultural
coreana que se espalha ao redor do mundo, com o apoio do KOCIS, Serviço de
Cultura e Informação da Coreia, braço do Ministério da Cultura, Esporte e
Turismo do país. A Coreia do Sul está cada vez mais se posicionando como um
fenômeno extraordinário de cultura e entretenimento, exportando músicas,
seriados de TV, cartoons, dramas transmitidos pela internet, filmes exibidos em
cinemas tradicionais, jogos digitais e coreografias. Só em 2018, essa onda
cultural garantiu uma renda para o país superior a US$ 7,4 bilhões.
Muitos desses componentes do
mundo cultural coreano já chegaram ao Brasil. Existem faixas de adolescentes e
jovens brasileiros fanáticos pelo K-Pop, um dos integrantes principais da onda
coreana, e pelo K-Drama, seriados exibidos na TV e na internet. Há também
outras atividades culturais que ainda não atingiram com intensidade outros países,
mas ainda se restringem ao território coreano. Uma delas são os webtoons,
cartoons escritos especialmente para internet, fenômeno popular na Coreia.
Em todo o mundo, as mídias
sociais têm sido um instrumento fundamental para a indústria de música coreana
atingir um público mais amplo, auxiliando o K-pop a realizar aparições cada vez
mais frequentes em paradas ocidentais de músicas como a Billboard, a revista
semanal norte-americana que elege os grandes sucessos musicais. BTS, Seventeen
e SuperM são alguns dos grupos K-Pop que já apareceram no Billboard, mas o
grupo coreano que está se destacando no momento é o (G)I-DLE, formado só por
mulheres, que em breve fará apresentações em vários países, inclusive no
Brasil.
Shows de TV
Diferentemente de outros países
industrializados, onde a televisão aos poucos está cedendo vez à internet, na
Coreia do Sul a grande procura do público pelas redes sociais não prejudica as
grandes audiências de TV. Além de várias redes nacionais de televisão, as três
maiores - KBS, MBC E SBS – produzem programas que repercutem fora das fronteiras
do país. Um deles é o Running Man, um show de entretenimento que faz
muito sucesso também no Japão, China, Vietnã e outros países do Sudeste
Asiático.
O programa Running Man não
é um mero show de diversão. Lançado em 2010, ganhou fama por unir diversão com
a apresentação de cantores, atores, comediantes e outras celebridades coreanas.
Hanbok
Uma das particularidades da
cultura coreana é a união da tradição com a tecnologia do futuro. Isso pode ser
percebido com uma simples caminhada pelo centro histórico de Seul. Nessa área,
mulheres costumam passear vestidas de hanbok, a vestimenta tradicional
da Coreia, que se caracteriza por suas cores vibrantes, linhas simples e
ausências de bolsos.
A importância do Hanbok para
a cultura coreana foi estudada pela estilista Sulnyeo Park, que veste com essa
roupa tradicional os artistas de Hollywood e celebridades de outros países que
visitam Seul.
Cinema
Uma das áreas culturais da Coreia
do Sul mais conhecidas no exterior é o cinema. “Isso se deve provavelmente ao
grande interesse do público coreano por filmes, sejam do próprio país ou do
exterior”, disse o produtor Park Sj, do estúdio Digital Idea, o maior estúdio
de efeitos visuais da Coreia. As salas de cinema das cidades coreanas costumam
ficar lotadas com a exibição de filmes nacionais ou estrangeiros. A Digital
Ideia, que produziu mais de 450 filmes nos últimos 20 anos, foi agraciada
com prêmios em festivais internacionais por ter aplicado efeitos visuais em
filmes como The Great Battle (Lobo Guerreiro) e Train to Busan
(Invasão Zumbi).
Sistema de Saúde
A prosperidade econômica
sul-coreana se espalha por todas as áreas do país. O sistema de saúde atende
bem a toda população coreana e ano após ano aumenta a procura de pessoas de
outros países pelos serviços médicos e por cirurgias na Coreia do Sul.
Cirurgias plásticas, por exemplo, são muito procuradas não só pelos artistas do
mundo K-pop como também por pessoas provenientes de vários países. Estes já
perceberam o alto nível tecnológico e a capacidade dos médicos sul-coreanos.
A mais recente unidade hospitalar
da Coreia do Sul é o St. Mary’s Hospital, a unidade hospitalar da Universidade
Católica da Coreia, equipada com o melhor equipamento de robótica do mundo, que
ajuda a realizar cirurgias nas áreas de urologia, ginecologia e otorrinolaringologia,
entre outras.
O St. Marys Hospital foi
inaugurado no início de 2019, em uma área cercada de colinas, nas proximidades
de Seul, a um custo de US$ 583 milhões. O edifício do St. Marys tem requintadas
e modernas instalações e por isso é chamado pelos visitantes e pacientes de
“hotel cinco estrelas”. A parte externa é composta de vias de acesso aos
bosques, onde os pacientes passeiam para tomar sol e respirar o ar das
montanhas.
O St. Mary’s Hospital
disponibilizou uma área interna para que restaurantes sirvam pratos finos ou
fast food para pacientes e visitantes. “Aqui tudo foi planejado para que o paciente sinta alegria por
estar em um lugar agradável e não [tenham] depressão por estar em um hospital”,
disse o pediatra Jong-seo Yoon, um dos médicos do St. Mary’s.
Laços culturais
O diretor da divisão da cultura
popular do Ministério da Cultura, Esporte e Turismo da Coreia, Nam Chanwoo,
destacou que, para a Coreia, é muito importante aumentar os laços culturais com
o Brasil, que tem uma grande tradição tanto na música quanto em artes
populares. Já o diretor geral do Serviço de Cultura e de Informação da Coreia,
Kim Il Hwan, afirmou que o desejo do governo coreano é solidificar e expandir a
presença dos valores culturais do país no Brasil, não somente em São Paulo,
onde vive a maior parte dos 50 mil coreanos que moram em território brasileiro,
mas também em outras cidades brasileiras.
Já o embaixador do Brasil na
Coreia, Luís Henrique Sobreira Lopes, enalteceu o simbolismo dos 60 anos de
relações Brasil-Coreia. Conforme ele lembrou, os 60 anos de relações diplomáticas
entre os dois países têm um significado especial: o cumprimento de um longo
ciclo de vida. “A data também remete à maturidade de nossa amizade, algo que
desejamos preservar e aprofundar”, disse o embaixador.
A história da diplomacia costuma
exibir exemplos de países que receberam os benefícios por terem sido pioneiros
em reconhecer uma nação irmã. Quando foram estabelecidas as relações bilaterais
com a Coreia do Sul, em 1959, a nação asiática lutava para se recuperar da
devastadora Guerra da Coreia (1950-1953). Na época, o país tinha um PIB per
capita de menos de US$ 100 e uma expectativa de vida de apenas 54 anos. Hoje, o
estoque de investimentos sul-coreanos no Brasil é de cerca de US$ 6 bilhões,
principalmente nos setores eletroeletrônico, automobilístico e de
semicondutores. Este ano, só entre janeiro e setembro, os dois países tiveram
intercâmbio superior a US$ 6,1 bilhões. Se a história se repetir, os dois
países tendem a ser parceiros gigantes tanto em termos econômicos quanto
culturais.
O jornalista
José Romildo viajou para a Coreia do Sul a convite do KOCIS, o Serviço de
Informação e Cultura daquele país.
Edição: Liliane
Farias
Tags: Coreia do Sul
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